Domingo, 19 de março de 2017
Trinta e seis pessoas foram presas durante a Operação Carne Fraca deflagrada pela Polícia Federal (PF), na sexta-feira (17). De acordo com a PF, até esta noite de sábado (18), duas ainda estão foragidas: o empresário do frigorífico Frigobeto, Nilson Alves Ribeiro - que estaria na Itália - e o filho dele, Nilson Umberto Sacchelli Ribeiro, diretor da empresa.
Além das prisões, a Justiça Federal determinou o bloqueio de até R$ 1 bilhão das contas bancárias das 46 pessoas investigadas, e o Banco Central informou o bloqueio de pouco mais R$ 2 milhões.
Não significa necessariamente que cada um dos investigados tenha R$ 1 bilhão. Este é um teto estipulado pela Justiça.
Segundo a Polícia Federal, fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) recebiam propina para liberar licenças sem realizar a fiscalização adequada nos frigoríficos. A investigação indica que eram usados produtos químicos para maquiar carne vencida, e água era injetada nos produtos para aumentar o peso.
Ao todo, 22 empresas são investigadas na operação, das gigantes JBS e BRF – que controlam marcas como Seara, Perdigão e Friboi – a frigoríficos menores como Master Carnes, Souza Ramos e Peccin.As carnes irregulares eram vendidas no Brasil e no exterior. Há também casos de papelão em lotes de frango e carne de cabeça de porco em linguiças.
As autoridades não detalharam quais irregularidades foram cometidas por cada empresa.
As empresas afirmam que estão colaborando com as investigações e negam adulteração nos produtos. Há ainda a suspeita de que os partidos PP e PMDB eram beneficiados com propina.
Acordo para não fechar fábrica
Em São Paulo, o gerente de Relações Governamentais e Institucionais da Brasil Foods (BRF), Roney Nogueira, que teve a prisão decretada na sexta-feira, se entregou na manhã deste sábado (18) à Polícia Federal. Os advogados disseram que ele estava na África do Sul e retornou nesta madrugada. Roney será transferido para Curitiba na terça-feira (14).
De acordo com os investigadores, Roney Nogueira teria tratado de propina com Dinis Lourenço, chefe do Departamento de Inspeção do Ministério da Agricultura em Goiás. Conforme a PF, a conversa seria para impedir que o funcionamento da unidade da BRF na cidade de Mineiros fosse suspenso, por contaminação de uma bactéria. No despacho do juiz, a unidade, que processa frango e peru, aparece apenas como "Fábrica da BRF em Mineiros, Goiás."
Segundo a Polícia Federal, uma conversa gravada entre Roney Nogueira e André Baldissera, diretor da BRF, indica que Dinis Lourenço pediu apoio em uma campanha eleitoral para que a unidade continuasse funcionando. Dinis e André Baldissera também estão presos.
Veja a transcrição da conversa
Roney: eu vou contar o que ele pediu. Aí ele pediu o seguinte que hoje, ele tá, o Dinis tá pra assumir como o superintendente. Porque a bancada que cuida aqui do Ministério da Agricultura é do PDT. E para ele ficar como superintendente ou ficar no Sipoa ele tem de dar resultado para a bancada do PDT. Ele pediu apoio da BRF aí nas eleições municipais, tá.
André: ah, vamos fazer.
Roney: agora eu vou cobrar ele. Entendeu. Se ele quer a minha ajuda, ele vai ter que bater no peito e conseguir isso aí pra gente. E se não conseguir, eu não consigo nada. Entendeu?
André: essa é uma notícia muito boa.
Sipoa é o Departamento do Ministério da Agricultura responsável pela fiscalização de produtos de origem animal.
Não há informação no despacho se o apoio político foi efetivado. Mas, segundo o juiz Marcos Josegrei, a unidade de Mineiros não foi fechada, ao que tudo indica, pela influência de Roney Nogueira e André Baldissera.
A BRF é um dos maiores grupos produtores de alimentos do Brasil e dona de marcas como Sadia e Perdigão.
A Polícia Federal não informou quais marcas da empresa eram produzidas na unidade de Goiás.
Interdições após a operação
A fábrica da BRF em Mineiros foi interditada na sexta-feira pelo Ministério da Agricultura.
Neste sábado, caminhoneiros estavam parados à espera de liberação das notas fiscais para poder transportar as cargas. Na operação também foram interditadas duas unidades da Peccin Agroindústria: em Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, e em Curitiba. A Peccin produz derivados de frango, porco e embutidos em geral, com as marcas Peccin e Itali alimentos.
Do G1 Paraná
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