'É DIFÍCIL CONVIVER COM A AUSÊNCIA', DIZ PAI DE BEATRIZ 1 ANO APÓS MORTE EM PETROLINA, PE

Sábado, 10 de dezembro de 2016
Beatriz Angélica Mota tinha 7 anos quando foi morta a facadas, durante uma festa de formatura no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, em Petrolina, no Sertão de Pernambuco. Neste sábado (10), a morte da criança completa 1 ano e até o momento nenhum suspeito foi preso. Para os pais, além da dor de perder a filha, a demora em solucionar o crime, e a saudade, causam ainda mais angústia.

O caso segue sob sigilo e poucas informações foram divulgadas pela Polícia Civil. Nesta sexta-feira (9), a delegada Gleide Ângelo, de Recife, capital pernambucana, assumiu a chefia das investigações, com apoio dos delegados Marceone Ferreira e Alfredo Jorge.

A polícia não descarta nenhuma linha de investigação. Para o delegado Marceone Ferreira, tudo indica que o crime não foi planejado para atingir Beatriz, mas, qualquer outra criança. O promotor responsável pelo caso, Carlan Carlo, acredita que a morte tenha motivação religiosa.

Beatriz foi assassinada com cerca de 42 facadas nas dependências de um dos mais tradicionais colégios particulares de Petrolina. O crime ocorreu dentro da quadra poliesportiva da instituição de ensino, onde acontecia a solenidade de formatura das turmas do terceiro ano da escola. A festa contava com a participação de aproximadamente 2.500 pessoas, entre alunos, convidados e funcionários.

A criança estava com a mãe, Lúcia Mota, com o pai e professor do colégio, Sandro Romilton, além de familiares, que prestigiavam a formatura da irmã mais velha de Beatriz.

A última imagem que a polícia tem de Beatriz foi registrada às 21h59, quando ela pede para ir até o bebedouro, localizado na parte inferior da quadra. Depois desse momento, a criança não retorna mais para o lado da mãe e não foi mais vista por nenhuma testemunha.

Em abril, o delegado Marceone Ferreira disse, em uma entrevista, que, pelo menos, cinco pessoas que eram funcionários do colégio podem ter participado do crime. Segundo o delegado, essas pessoas mentiram ou entraram em contradições durante os depoimentos. Mas, ele alegou que até o momento não tinha provas suficientes para pedir a prisão de possíveis envolvidos na morte.

Dor da família
Um ano após a morte, Lúcia Mota e Sandro Romilton falaram ao G1, sobre a dor de perder a filha e como a rotina da família foi alterada nos últimos meses.

Depois do dia 10 de dezembro de 2015, tanto Sandro, como Lúcia, pediram afastamento do trabalho. “Eu já pensei e não encontrei nada pior para acontecer com um ser humano, como aconteceu conosco. Quando a gente perde um ente querido da família, a gente se apoia no trabalho, nos amigos, nos afazeres do dia a dia para retomar a vida. Nós não tivemos esse direito. O crime ocorreu na nossa escola, onde a gente trabalhava, onde ela estudava. Não pude mais trabalhar”, disse Sandro.
'Nossa vida parou no dia 10 de dezembro', disse pai de Beatriz (Foto: Taisa Alencar / G1)

“Não temos condições de voltar a nossa rotina. Nossos trabalhos requerem muita atenção, muita leitura e me falta ainda esse equilíbrio para concluir algo desse tipo”, fala Lúcia.

O sítio onde a família vivia está fechado. Os pais de Beatriz e os dois filhos, de 18 e 11 anos, agora moram em um condomínio, em Juazeiro, na Bahia, cidade vizinha à Petrolina.

“A nossa residência foi planejada principalmente para Beatriz, que veio por último. Tinha o parque dela, tinhas as coisinhas dela, os brinquedos, tudo no seu lugar. E retornar, é muito dolorido. A gente dificilmente volta em casa. Uma vez ou outra eu passo lá, vejo tudo parado, aquele silêncio, aquela saudade, aquela ausência. Ainda tem roupinha dela, com o cheirinho dela, vem aquela lembrança, aquela saudade boa. A gente perdeu isso também”, conta Sandro.

Lúcia diz que não consegue entrar na antiga residência porque tudo lembra a filha. A única vez que esteve no local foi acompanhada por um psicólogo e um psiquiatra.

“Não consigo retornar para minha casa, não me vejo entrado na minha casa sem a minha princesa, sem meus filhos todos. Tenho muita saudade. Sonho, as vezes estou aqui sentada, sinto um cheiro, visualizo tudo que era da rotina, mas não tenho coragem de retornar para nossa casa sem minha princesa. Não tem como você virar uma página”, diz Lúcia.

"Saímos de casa, do trabalho, algumas pessoas que se diziam amigas não nos procuram mais. É difícil ter que conviver com a ausência porque a saudade só aumenta, ela não diminuiu. Deus tem feito a gente sonhar com Beatriz. São bem simbólicos, são sonhos acalentadores, dela chegando, abraçando, dizendo 'eu te amo', que está com saudade. O que nós faz realmente levantar durante o dia para continuar a viver, é que nós temos ainda dois filhos”, desabafa o pai de Beatriz..

“Beatriz era a coisa mais linda que eu já vi na minha vida. Trazia muita alegria. Quem conhecia, quem convivia com ela, sabe do cuidado que nós tínhamos com Beatriz. Sempre obediente, carinhosa, fazia suas orações ao deitar e ao acordar, nos abraçava sempre. Isso faz uma falta imensurável”, lamenta Sandro.

Enquanto a irmã mais velha de Beatriz aguardar o início das aulas da faculdade, toda a atenção é voltada para o filho mais novo. Depois do crime, os pais acompanham o garoto quase 24 horas.

A menina ficou perto da família durante todo o evento e próximo ao final da festa, pediu a mãe para ir até o bebedouro, na parte inferior da quadra e não retorna mais. Cerca de 20 minutos depois, Lúcia Mota desce a arquibancada, de onde assistia a festa de formatura e vai até o bebedouro procurar a filha.Beatriz no dia do crime
Os primeiros registros feitos pelas câmeras que fizeram a cobertura oficial do evento começam às 18h25. Os convidados começam a chegar ao Ginásio de Esportes pela entrada principal. Beatriz aparece nas imagens às 19h10, onde permanece sentada perto do pai, Sandro Romilton, que também participava da solenidade. Entre os alunos que comemoram a formatura do terceiro ano, está a irmã de Beatriz.

Às 22h40, o professor da instituição e pai da criança, Sandro Romilton sobe ao palco e pede a ajuda dos convidados para procurar Beatriz. O pedido foi registrado pelas câmeras que faziam a filmagem do evento.

“Beatriz, ô minha filha, onde é que você está? Ô Bia. Está todo mundo procurando por você, meu amor. Ela está vestida como eu aqui, com o rosto da irmã [mostrando a camiseta branca com a foto da filha mais velha]", diz.

Angustiado, Sandro pede ajuda dos convidados. "Ela tem sete anos, estava brincando com uma coleguinha. Eu já procurei em todos os lugares que vocês imaginam aqui nessa escola e ainda não achei minha filha. Estou desesperado", diz o pai. O último registro das câmeras oficiais do evento ocorre um minuto depois, quando todos param o que estão fazendo para ajudar nas buscas.

Minutos depois o corpo de Beatriz foi encontrado atrás de um armário, dentro de uma sala de material esportivo que estava desativada após um incêndio provocado por ex-alunos do colégio. A polícia descartou a possibilidade de violência sexual. A faca utilizada no crime foi deixava cravada na menina. A vítima tinha ferimentos no tórax, membros inferiores e superiores.

“Parecia uma cena de guerra, as pessoas gritando, desesperadas. E eu perguntei: ‘Sim, mas cadê Bia, cadê Bia?’. Me apontaram para uma sala, perto do bebedouro e eu cheguei até a porta dessa sala, tinha um segurança e ele disse: “Moço, não tem mais nada que o senhor possa fazer”, contou Sandro.

Investigações
Atualmente o inquérito está com o Ministério Público. Os documentos estão divididos em 13 volumes, com seis anexos. Até o momento foram feitas 137 perícias e 208 pessoas foram ouvidas. Um suspeito foi apontado como homem que abordou Beatriz no dia. Ele aparece em imagens de câmeras de segurança, rondando o colégio e entrando na escola 20 minutos antes do crime. Com ajuda de testemunhas. Um retrato falado foi feito, mas a polícia ainda não tem informações sobre o suspeito.

Local do crime
Na região trabalhada como zonas prováveis para execução da criança, não há monitoramento por câmeras de segurança. De acordo com as investigações, Beatriz não foi morta na sala onde foi encontrada. Devido as evidências, o perito chefe do Grupo Especializado em Perícias de Homicídios do Departamento de Homicídios e Proteção a Pessoas (DHPP), Gilmário Lima, concluiu que a criança foi colocada no local já depois de morta.

Gilmário disse ainda que a pessoa que colocou Beatriz na sala, não estava suja de sangue. Assim, a polícia trabalha com pessoas que executaram o crime e suspeitos que transportaram o corpo.

“Quem colocou Beatriz aqui, não estava melado de sangue, porque não deixou sangue em nenhuma porta, em nenhum trajeto e principalmente no corredor que dá acesso ao portão, que é típico de ações desse tipo, de deixar gotas de sangue. O caminho que ele percorreu, não tinha vestígios de sangue. Isso deixa muito complexo, porque o mais fácil era executar a vítima nesse local. Podemos trabalhar com agentes que executam e agentes que transportam a menina. Quem executou a criança pode ter trocado de roupa”, pontuou.

Em setembro, a polícia revelou que tinha elementos que apontam para o lugar onde a vítima foi assassinada, mas não entrou em detalhes.

Suspeitos
A polícia trabalha com a possibilidade de que mais de uma pessoa tenha assassinado a criança. “Pelas lesões, são lesões concentradas e que também podem ser de um agressor ou mais de um agressor. A gente também não descarta isso, devido a complexidade do caso. O fato de ter sido encontrada só uma faca, não quer dizer que foi apenas um", explicou Marceone.

DNA dos suspeitos
Através da perícia feita na faca utilizada no crime e nas mãos da vítima, a polícia conseguiu identificar dois tipos de DNA diferentes, do sexo masculino e que estão ligados ao crime. Um deles foi colhido no cabo da faca que foi utilizada pelo assassino. O outro perfil genético foi achado através de exames realizados por baixo das unhas da mão direita da vítima.

Chaves
Durante entrevista em março, o delegado Marceone Ferreira revelou que as três chaves que dão acesso a portões do colégio e que sumiram no dia 30 de novembro possivelmente foram utilizadas no dia do homicídio.

Antes do sumiço ter sido registrado pela direção da escola em um livro de ocorrências, as chaves teriam passado por um segurança e dois assistentes disciplinares. Mas, a polícia não informou ao certo quem teria pego.

Colégio
O colégio possui uma área de 20 mil metros quadrados, mas o crime deve ter ocorrido próximo à quadra, em uma área de 2.350 mil metros quadrados. Na quadra, onde ocorreu o crime, não há monitoramento por câmeras de segurança.

Disque-denúncia
A polícia pede para que pessoas que tenham informações sobre o suspeito que aparece no vídeo, liguem para o telefone do Disque-denúncia, nos números: (87) 98137.3902 e (81) 3719.4545.

De Taisa Alencar do G1

Zé Carlos Borges

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