CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DO PARTIDO DOS TRABALHADORES

Exmo Sr Rui Falcão

Antes de entrar no mérito desta carta, sinto-me na obrigação de afirmar que não sou filiado ao partido presidido pelo Senhor, mas, por questão ideológica, desde a adolescência posicionei-me à esquerda, o que me fez visceralmente petista, por coerência, a pelo menos duas décadas.

Assim sendo, vivo este partido, luto por este partido, em que pese todas as suas incoerências, como as que descreverei a seguir, por ser o desembocadouro natural das forças progressistas desse país. Há um golpe em curso e nem mesmo as crianças deixam de perceber isso, tantos são os indícios apontando nesse sentido.

A exemplo de Joaquim Barbosa, o juiz Fernando Moro tem modos particulares de julgar, criando jurisprudência com intenções bem claras, inclusive permitindo vazamentos seletivos de nomes e depoimentos, tornando-se cúmplice, na medida em que não apura quem faz isso, porque faz e como faz.

A mídia como um todo, e particularmente a tevê Globo, criminaliza acintosamente o partido, seus líderes e a sua militância, a partir de notícias tendenciosas, quando não deturpadas e até inventadas, e nunca vi o jurídico do PT exigir em juízo o direito de resposta, um direito legal.

O Presidente do Senado Federal afirma que a depender do Senado o governo está paralisado. Presidente da Câmara dos Deputados afirma com convicção, e em pleno exercício de cinismo, que está pronto para assumir o governo. A partir da chamada bancada evangélica, em todas as igrejas fundamentalistas o que se passa é que o PT é contra a família, é corrupto, é ateu, demonizando-nos, semeando o ódio e o preconceito.

Ora, presidente, se a corrupção envolvendo a Petrobras que, comparada com as demais envolve poucos nomes petistas, como poucos também os da oposição, gerou toda essa ânsia golpista, imagine quando se aprofundarem as investigações do HSBC e da chamada operação Zelote, apurando corrupção no Ministério da Fazenda, quando dificilmente aparecerão nomes petistas, enquanto praticamente quase todo o empresariado brasileiro aparecerá, inclusive os próprios barões da mídia e grandes nomes da oposição... O que não farão, para interromper as investigações?

Há interesses multinacionais em jogo e não é segredo para ninguém que está entrando dólares no país, para financiar a desestabilização do governo.

Eles esperaram derrubar o governo no dia 15 último, com muitos milhões de brasileiros pedindo o afastamento da Presidente da República, e não tiveram êxito, mas já marcaram outra, para o dia 12, que certamente será maior, porque já há um antecedente, e o senhor sabe, melhor do que eu, que do quantitativo nasce o qualitativo, que se aprimoram, surgem lideranças, se organizam e se disciplinam. E o que o PT está fazendo, para neutralizar isso? Rigorosamente nada.

Não vejo propaganda institucional, paga ou não. Não vejo a Presidente da República fazer uso das suas prerrogativas e convocar cadeias de rádio e tevê, para dizer o que está acontecendo. Isto é constitucional, Sr. Rui Falcão, a Constituição prevê sanções para quem atentar contra o regime democrático, e a Sra. Presidente está na obrigação de se pronunciar contra isso, oficialmente.

Por outro lado, o que vejo na militância?
Vontade de rua, de manifestar-se, de "peitar" os golpistas, de mostrar que há quem defenda o governo. As cobranças de ação são crescentes e cada vez mais radicais, nas redes sociais, tanto nas postagens quanto nos comentários, e já não é desprezível o número de companheiros desanimando, perdendo as esperanças de que haverá o retorno às práticas do passado, de luta constante e permanente.

Quando vi o sucesso, mais qualitativo que quantitativo, das nossas manifestações, no último dia 13, pensei que fosse o parto de novas e muitas manifestações, mas tudo esfriou, e vejo o partido estabelecer eventos até junho, burocraticamente, longe da militância, longe do povo, longe da realidade. A hora é de luta! Se perdemos a oportunidade da ação, não podemos perder a da reação, sob pena de seremos derrotados.

Partidos burocratas, de gabinete, perdem os vínculos com a massa e somem. Não tome este documento como fogo amigo ou divisionismo. Como afirmei no início vejo contradições no PT e se quisesse bombardear, traindo-o, ou dividir a militância, outro teria sido o meu argumento e outra a minha redação.

Manifesto-me como um revolucionário apreensivo, vendo as forças conservadoras na ofensiva, enquanto nem mesmo uma defensiva elaboramos, para contrariedade da militância do partido e dos partidos amigos, a começar pelos camaradas do PC do B.

A hora é de luta, meu presidente, mais adiante poderá ser tarde. Saudações de um companheiro preocupado.

Francisco Costa
Rio, 29/03/2015.

Zé Carlos Borges

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